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segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

ADULTOS

Vladimir Maiakovski

Os adultos fazem negócios.
Têm rublos nos bolsos.
Quer amor? Pois não!
Ei-lo por cem rublos!
E eu, sem casa e sem tecto,
com as mãos metidas nos bolsos rasgados,
vagava assombrado.
À noite
vestis os melhores trajes
e ides descansar sobre viúvas ou casadas.
A mim Moscou me sufocava de abraços
com seus infinitos anéis de praças.
Nos corações, nos relógios
bate o pêndulo dos amantes.
Como se exaltam as duplas no leito do amor!
Eu, que sou a Praça da Paixão, (1 )
surpreendo o pulsar selvagem
do coração das capitais.
Desabotoado, o coração quase de fora,
abria-me ao sol e aos jactos d’água.
Entrai com vossas paixões!
Galgai-me com vossos amores!
Doravante não sou mais dono de meu coração!
Nos demais - eu sei,
qualquer um o sabe -
O coração tem domicílio
no peito.
Comigo
a anatomia ficou louca.
Sou todo coração -
em todas as partes palpita.
Oh! Quantas são as primaveras
em vinte anos acesas nesta fornalha!
Uma tal carga
acumulada
torna-se simplesmente insuportável.
Insuportável
não para o verso
de veras.


quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

teu poema não publicado

Se eu soubesse dos seus estragos menino
Terremoto de frestas pequenas
Com fumaça de encanto na boca
Te conhecer hoje, sabendo que ontem a gente já não ia ser
Da vida livre de sapatos amarrados
Meu querer dilatado em migalhas
Do pó de lençol que me entope o nariz
Do teu peso que me dói as costas
Se eu soubesse que não seria, teria ido mais fundo
Cavocado o peito, meu peito
Descoberto esses moveis de petróleo
Sairia rica

De mim.